deadcandance
A P. uma minha pessoa deu-me já faz uns anos valentes o "Morreste-me" do José Luís Peixoto, autor conhecido publicamente neste último ano pela aparição de um livro/disco "Antídoto" co-autoria dos Moonspell. Dois antídotos para um mesmo veneno. Embora deva confessar que toda esta obscuridade não faz parte da minha pele. O que vale é a letra, a história de um filho que vive, acabado, com a morte do pai. O furtar das suas memórias. Da seca terra do Alentejo.
«E o que torna extraordinário o texto de José Luís Peixoto é a sua capacidade de avançar por esta nebulosa de sentimentos e de angústias, evitando sempre cair num qualquer tipo de retórica emocional. A sua comoção é sem limites, mas não transborda. E o seu lirismo apenas reforça a melancolia deste desamparado requiem para uma só voz» - dele afirmou José Mário Silva , no DNA.
"Regressei hoje a esta terra agora cruel. A nossa terra, pai. E tudo como se continuasse. Diante de mim, as ruas varridas, o sol enegrecido de luz a limpar as casas, a branquear a cal; e o tempo parado, o tempo entristecido e muito mais triste do que quando os teus olhos, claros de névoa e maresia distante fresca, engoliam esta luz agora cruel, quando os teus olhos falavam alto e o mundo não queria ser mais que existir. E, no entanto, tudo como se continuasse. O silêncio fluvial, a vida cruel por ser vida. Como no hospital. Dizia nunca esquecerei, e hoje lembro-me. Rostos tornados desconhecidos, desfigurados na minha certeza de perder-te, no meu desespero desespero. Como no hospital. Não acredito que possas ter esquecido."
José Luis Peixoto, in morreste-me, pág 7